Curso de Sementes do Gambá promove troca de conhecimentos e articula discussão sobre rede de sementes nativas

30/05/2015

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Participantes do curso e Genaízo, viveirista do Gambá, em atividade prática: descobrindo como beneficiar cada tipo de semente

O Gambá realizou, entre os dias 23 e 25 de maio, a atividade “Da semente ao reflorestamento: curso de colheita e beneficiamento de sementes”, na base do Gambá em Elísio Medrado, o CPMVS. A atividade do Projeto Ações Ambientais Sustentáveis, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, reuniu mais de 30 técnicos, viveiristas e outros interessados em restauração ecológica e já tem proposta de continuidade com a articulação para formação de uma rede de sementes florestais. O Gambá, Sema, Gana, UFRB e UFBA organizarão um encontro para discutir e encaminhar a rede nos dias 16 e 17 de julho.

O curso teórico e prático abordou desde aspectos técnicos, como a escolha de matrizes, que são as árvores de onde são retiradas as sementes para produção das mudas, passando pelos impactos e motivações sociais da restauração até a gestão dos viveiros. A interação entre diversos viveiristas e restauradores de várias regiões do estado propiciou momentos de aprendizagem mútua, como avaliou o viveirista do Gambá Antônio Mácio Oliveira: “Foi bonito ver o diálogo. O que nós sabemos aqui eles levaram e o que eles sabiam ficou aqui”.

A necessidade de profissionalizar a atividade dos viveiros esteve sempre em pauta, para garantir a renda e a sustentabilidade desse tipo de negócio que gera um impacto positivo na sociedade, seja pelos efeitos da restauração ecológica, seja por aspectos simbólicos, como ressaltou o professor da UFRB Edson Duarte: “Um povo que perde sua floresta, perde a referência de quem é. Precisamos das florestas para manter nossa identidade cultural”.

No entanto, para a maioria dos participantes do curso, essa profissionalização e gestão dos viveiros deve sempre estar a serviço da conservação, e não ser um fim em si mesmo. Isso se reflete no cuidado com a coleta de sementes, procurando retirar somente uma quantia que não impeça a reprodução da própria floresta, como defende a professora da UFBA Maria Aparecida de Oliveira, “nós não somos produtores de semente, quem produz é a natureza. Nós somos coletores e precisamos fazer isso de forma sustentável, que não promova a desertificação de nossas florestas”.

Como foram as atividades

O primeiro momento de formação foi facilitado pela professora Maria Aparecida de Oliveira, a Cidinha. Ela tratou de fenologia vegetal, ou seja, o estudo dos períodos reprodutivos das plantas, que compreende a floração e a frutificação. Esse estudo é importante para saber quando coletar as sementes de cada espécie. Além dessa fala de teor mais técnico, Cidinha provocou a reflexão de todos os presentes ao levantar a necessidade de definir os objetivos da restauração de forma participativa. Segundo ela, além de como plantar e o quê plantar, é preciso se perguntar para quem plantar, já que a restauração feita de forma participativa e respeitando os desejos da comunidade do entorno tem mais chances de ser aceita e dar certo.

O engenheiro agrônomo do Gambá, Rodolfo Moreno, demonstrou no primeiro e segundo dias processos realizados no viveiro do CPMVS. Ele falou sobre a gestão das matrizes, mostrando as fichas e discutindo com os presentes os modelos possíveis para registrar a colheita. Em um segundo momento realizou atividade prática sobre o beneficiamento de sementes, onde os participantes puderam experimentar os processos e prepararam alguns tipos de semente para o plantio.

No segundo dia, o professor Edson Duarte, da UFRB, detalhou o planejamento, ensinou técnicas de colheita e esmiuçou o cálculo dos custos de sementes. Partindo para a prática, ele demonstrou técnicas de escalada para realizar a colheita de sementes com segurança, detalhando os equipamentos e procedimentos para evitar acidentes em campo.

Edson demonstra a técnica de escalada blocante ao tronco
Edson demonstra a técnica de escalada blocante ao tronco

Ele frisou a necessidade de ter uma quantidade grande de matrizes para garantir a diversidade genética das mudas produzidas e garantir assim uma restauração com plantas sadias e resistentes. Os participantes do curso apontaram nesse momento que os viveiristas têm dificuldade de encontrar tantas matrizes para realizar a coleta das sementes, a escassez de fragmentos florestais com indivíduos saudáveis que atendam esses critérios torna muito difícil a tarefa de garantir a diversidade genética das mudas produzidas. Para solucionar essa dificuldade, Edson aponta a necessidade de articular uma rede de sementes, onde os parceiros que produzam espécies semelhantes em regiões próximas, possam trocar sementes entre si e garantir a produção de mudas provenientes do mínimo saudável de matrizes.

Articulando a Rede

Em muitos momentos da discussão ficou clara a necessidade de uma rede de coletores de sementes e viveiristas, seja para trocar experiências e informações ou sementes. A permuta de sementes retiradas de áreas próximas e compatíveis pode, por exemplo, aumentar a qualidade das mudas ao promover a maior variabilidade genética. A dificuldade em regularizar os viveiros também pode ser melhor enfrentada com auxílio mútuo.

Para Tatiana Cabral, analista ambiental da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia que está coordenando o trabalho com os centros de referencia em restauração florestal, a conclusão do Cefir (Cadastramento Ambiental Rural das propriedades no estado da Bahia) vai gerar uma demanda por restauração que os viveiros do estado, da forma que estão, não vão conseguir atender. “Um dos papeis da rede é produzir e circular informação. Ela precisa ser referência, se alguém quiser saber de mudas ou de viveiros na Bahia, pode consultar a rede˜. Segundo o levantamento dos participantes só há um viveiro de nativas legalizado na Bahia.

Tatiana Cabral mostra o desenho que pensou para a rede, a ser complementado pela participação de todos
Tatiana Cabral, da SEMA, mostra o desenho que pensou para a rede, a ser complementado pela participação de todos

Para isso, a SEMA colocou-se aberta a desenhar junto com a sociedade civil essa rede. No curso, definiu-se a data e a comissão organizadora de um encontro regional de viveiristas e restauradores, nos dias 16 e 17 de julho.

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Reserva Jequitibá – Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Serra da Jibóia, Elísio Medrado/BA