Grupo protesta contra a canalização do rio Jaguaribe neste domingo

02/06/2017

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Paisagem do Jaguaribe em sua chegada à foz

Às vésperas do dia mundial do meio ambiente o governo do estado e prefeitura prepararam um presente de grego para os soteropolitanos. Na semana passada a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo concedeu a licença ambiental e a Conder já prepara o canteiro para iniciar as obras de canalização do Rio Jaguaribe. Mas um grupo de cidadãos, indignados com o projeto ultrapassado que deve destruir um dos cartões postais da orla de Salvador e acabar com a vida em um dos poucos rios correndo em curso natural em Salvador, promete fazer frente a esse retrocesso. Eles vão protestar domingo, dia 4, pela manhã, próximo ao supermercado Hiperideal em Piatã, onde já estão sendo instalados os tapumes.

A canalização do Jaguaribe faz parte de um projeto mais amplo que está intervindo também nos rios Trobogy, Passa Vaca e Mangabeira. Com a justificativa de aumentar a drenagem dos rios para evitar inundações, a prefeitura já está “cimentando” o Trobogy e o Passa Vaca, enquanto o Estado vai fazer o mesmo no Jaguaribe e Mangabeira.

Se concretizada, a obra vai alterar drasticamente a paisagem da orla na região de Piatã. Apesar da poluição, ainda há fauna no rio e seus arredores, seu leito natural e a vegetação no trecho da orla compõem um belo cenário que é tombado pelo Iphan como paisagem cultural. As intervenções estão previstas em 10 km de seu leito e calha, no trecho que vai da Paralela até a foz, em Patamares. Com a impermeabilização de seu leito e margem, o soteropolitano vai se deparar com um cenário semelhante à foz do rio Camurujipe que deságua no Costa Azul e é exemplo de intervenção desastrosa na paisagem. Além da canalização, a obra envolve terraplanagem, desmatamento, desapropriações e demolições.

Apesar do porte da interferência proposta, o projeto não passou por discussão suficiente com a sociedade. A especialista em direito ambiental Aidê Batista aponta que não foram realizados o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) nem as audiências públicas. Entidades socioambientalistas e voltadas ao urbanismo e direito à cidade têm buscado intervir, no entanto não conseguem nem mesmo ter acesso ao projeto na íntegra.

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Tapumes já estão sendo colocados para o início das obras

A situação tem deixado indignadas pessoas preocupadas com a degradação ambiental em Salvador e na Bahia, estado que foi o “campeão” de desmatamento da Mata Atlântica no último ano. Grupos organizados que trabalham questões socioambientais territoriais como a defesa dos parques Pituaçu e Vale Encantado, têm se unido e amplificado sua indignação com a obra nas redes e grupos de Whatsapp. “Um absurdo!!! Já começaram as obras nessa semana. Sou moradora da área e estou em misto de raiva, impotência e tristeza profunda. Gente cega, ignorante, insensível. Um crime à vida!”, reclama uma moradora no facebook. Outra completa que a forma de tratar os rios urbanos é bem diferente do que há de mais moderno no mundo: “Ê, santa ignorância. Enquanto os países da Europa estão tirando os tampões e o concreto os ignorantes procuram com que faturar caixa dois”.

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Esse tipo de intervenção parte da concepção de que os rios estão mortos e, portanto, não há prejuízo ambiental. No entanto, o monitoramento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica  aponta que o rio Jaguaribe possui um índice de qualidade ambiental considerado regular. Também há inúmeros registros fotográficos de fauna no local, peixes, aves, crustáceos e anfíbios.

A canalização dos rios da bacia do Jaguaribe já foi tema de discussão em seminário sobre os rios urbanos de Salvador, organizado pelo Gambá e uma série de parceiros no fim de março. Na ocasião, diversos especialistas observaram que a forma mais equilibrada de lidar com as cheias dos rios é através da desocupação de suas margens, recomposição da mata ciliar e aumento da permeabilidade do solo. Isso pode ser obtido, por exemplo, com a instalação de parques lineares. Com os projetos de canalização o oposto irá acontecer.

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Reserva Jequitibá – Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Serra da Jibóia, Elísio Medrado/BA