Ponte entre Salvador e Itaparica é questionada em audiência pública

23/10/2015

ponte ssa-ita
 Imagem ilustrativa da ponte Salvador-Itaparica

Aconteceu ontem (22.10), em Salvador, a segunda audiência pública para debater o projeto da ponte Salvador-Itaparica. O empreendimento, que deve custar mais de R$6 bilhões, e seu Estudo de Impacto Ambiental foram apresentados e debatidos. As principais intervenções do público questionaram a real necessidade de tamanho investimento em tempos de crise e os impactos do crescimento desordenado na ilha.

A ponte Itaparica-Salvador faz parte do Sistema Viário Oeste, que pretende ligar Salvador ao baixo sul através da ilha e prevê ainda a duplicação da BA-001. O projeto da ponte que foi submetido à audiência prevê 6 pistas com dois acostamentos de 12,2 km de extensão, ligando o bairro do Comércio, em Salvador, à localidade de Gameleiras, em Vera Cruz, onde haverá uma praça de pedágio.

Impactos ambientais e socioeconômicos

O Estudo de Impacto Ambiental prevê uma série impactos que serão sentidos tanto no meio físico (abiótico), na fauna e na flora (biótico), quanto na socioeconomia da região. Entre os danos mais graves destaca-se a destruição de uma parte do Recife de Corais Pinaúnas, perda de comunidades bentônicas (invertebrados que vivem no fundo de ambientes aquáticos), o aterramento do Rio Jaburu para a construção da praça de pedágio, a possibilidade de assoreamento do Porto de Salvador e o desmatamento e fragmentação de florestas na ilha de Itaparica, a partir do aumento da ocupação.

A maioria dos impactos será sentido na fase de implantação, prevista para durar 5 anos. Já a dinâmica da socioeconomia deve ser mudada permanentemente. Um dos objetivos do projeto é dinamizar a economia dos municípios da Ilha, do Recôncavo e do Baixo Sul aproximando-os de Salvador. O estudo espera que, a partir da construção da ponte, haja um intenso crescimento demográfico.

Com a facilidade de acesso, a ilha será uma espécie de bairro de Salvador. O estudo apresentado ontem projeta uma população de 220 mil habitantes até 2050, no entanto o número foi contestado na audiência e outros estudos já previram mais de 300 mil. A população hoje, segundo o estudo, está em 65 mil.

Moradores de Itaparica e Vera Cruz presentes na audiência relatam que a especulação imobiliária já pode ser sentida, mesmo com o projeto ainda no papel. Segundo Jorge Carvalho, morador de Vera Cruz e presidente da Associação Municipal e Metropolitana de Usuários de Transporte, tem havido várias invasões de terreno, surgimento de empreendimentos como villages e condomínios e uma intensa compra e venda de terrenos.

Ele afirma que a construção da ponte vai atender somente aos interesses de empreiteiros e necessidades soteropolitanas, como o alívio no trânsito rumo à BR-324 e oferta de terreno para expansão urbana: “Vai ficar mais perto ir morar em Itaparica do que em Cajazeiras. Mas não é isso que queremos pra Ilha, queremos investimento para que ela se torne um balneário turístico. Na ilha moram seres humanos, não somos só eleitores. Não podemos dividir o que não temos”.

Jorge Carvalho reclama ainda que a travessia de ferry boat e os serviços públicos na ilha têm sido propositalmente esquecidos pelo governo, “o sucateamento é algo pensado para viabilizar e justificar a obra. Como o próprio estado vem aqui dizer que não tem saúde, educação e que temos que acessar em Salvador, se é tarefa dele oferecer esses serviços?”.

Viabilidade e pertinência do empreendimento

O coordenador técnico do projeto, Paulo Henrique de Almeida, afirma que a previsão de custos será divulgada em breve, mas já se sabe que o projeto não ficará por menos de R$ 6 bi, até agora os estudos e projetos já consumiram R$ 90 mi.

A ideia é que o empreendimento seja feito em Parceria Público Privada, com o investimento sendo recuperado através da cobrança de pedágios. O governo do Estado vem tentando captar parceiros para realizar o empreendimento e tem apostado nos investidores chineses. O plano é licitar a obra em 2016 e iniciar as obras em 2017, as audiências são parte da exigência para que o INEMA conceda a licença prévia.

Com esse altíssimo custo financeiro e as alterações irreversíveis sofridas na paisagem da Baía de Todos os Santos e na Ilha, o professor do Departamento de Engenharia Ambiental da UFBA e conselheiro do Gambá, Severino Agra Filho, questionou: “Essa é a única forma de fazer a integração regional?”.

Saiba mais:

Conheça o Relatório de Impacto Ambiental  e o Estudo de Impacto Ambiental do empreendimento

Logomarca Gambá

Av. Juracy Magalhães Jr, 768, Edf. RV Center, sala 102, Rio Vermelho, Salvador/Ba. Tel/fax: 71- 3346-5965

Reserva Jequitibá – Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Serra da Jibóia, Elísio Medrado/BA