Mobilização local pede criação de Unidade de Conservação na Serra da Jiboia

01/12/2015

Foto: Dinéia Pires
                                                                                                                                                                                                                Foto: Dinéia Pires

Há pelo menos duas décadas a sociedade local e ambientalistas baianos pedem a proteção da Serra da Jiboia, último grande remanescente florestal do Recôncavo Sul Baiano. Agora as preocupações se materializaram em uma proposta de mosaico de Unidades de Conservação para proteger a enorme biodiversidade e potencializar o desenvolvimento sustentável da região.

O Projeto Serra da Jiboia, conduzido pelo Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá) e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, realizou estudos que comprovaram a riqueza biológica da área.  Baseado neles, propõe a criação de um Parque para proteger o maciço florestal mais conservado e uma Área de Proteção Ambiental (APA) para potencializar o uso sustentável da terra em seu entorno, formando assim um mosaico de UCs, junto com a Reserva Particular de Proteção Ambiental Guarirú, unidade de conservação já existente na área.

Os resultados do projeto e a proposta do mosaico de Unidades de Conservação foram apresentados ao conselho gestor do projeto no último dia 24. O conselho é formado por representantes da sociedade civil e poder público dos cinco municípios e tem disseminado a necessidade e vontade local em proteger a Serra.

Isabelle Blengini, coordenadora do Projeto Serra da Jiboia, fala da importância do envolvimento das comunidades com a proposta, “acho que as pessoas receberam bem a proposta da criação do mosaico. Isso tem sido discutido no Conselho Gestor, a própria categoria de parque já havia sido sugerida nesse espaço antes da conclusão dos estudos. Representantes dos cinco municípios estão sensibilizados para a importância dessas UCs na região. Embora essa mobilização não seja fácil de atingir, facilita a criação porque as pessoas participaram do processo, discutiram as categorias, se empenharam em tirar as dúvidas. E a partir de agora eles vão ser multiplicadores dessa proposta”, avalia ela.

A proposta será entregue às autoridades competentes em nível municipal, estadual e federal para que sejam realizadas as consultas públicas, que vão incorporar novos olhares das comunidades envolvidas.

Para Renato Cunha, coordenador executivo do Gambá, a ação do poder público precisa ser rápida: “Esperamos que os órgãos se sensibilizem sobre a importância de proteger a Serra através da criação dessas Unidades de Conservação, analisem os dados, que são bem consistentes, para viabilizar essa estratégia de conservação que estamos propondo há cerca de 20 anos. Isso tem que ser organizado de forma rápida para realizar as consultas públicas enquanto ainda temos a sociedade civil local mobilizada pela ação do projeto”.

mapa poligonal
A proposta de mosaico de UCs, com o Parque na parte interna e APA no entorno

 

Serra da Jiboia: oásis de biodiversidade no Recôncavo Baiano

A Serra da Jiboia, no Recôncavo Sul Baiano, abrange cinco municípios: Elísio Medrado, Castro Alves, Santa Teresinha, Varzedo e São Miguel das Matas. Apesar da enorme riqueza de fauna e flora só possui uma Unidade de Conservação, a RPPN Guarirú, de caráter particular e com apenas 44 hectares, enquanto a Serra toda possui mais de 22 mil hectares.

Alesssandra Caiafa, professora da UFRB, coordenou a equipe multidisciplinar de pesquisadores dos estudos bióticos e abióticos e destaca a riqueza encontrada na área: “Durante esses estudos foram várias as espécies novas a serem descritas para a ciência e várias quebras de endemismo. Existem grupos de vertebrados, grupos de invertebrados e de vegetais que foram citados pela primeira vez no estado. E alguns pela primeira vez para o bioma. Ou seja, é um ambiente muito peculiar. Que deve ser efetivamente preservado a todo custo. É importante destacar também toda a geomorfologia da Serra e a fragilidade do seu solo. Isso indica que a Serra não se presta pra cultivo e, sim, para conservação”, defende Alessandra.

A necessidade de proteção da Serra é fácil de ser notada. Nos últimos anos a Mata Atlântica vem sendo desmatada e substituída por pastagens. A derrubada das matas ciliares vem diminuindo sensivelmente a quantidade de água. Os moradores também relatam o uso abusivo de agrotóxicos que contaminam água e solo, já a fauna local é ameaçada pela caça e o tráfico de animais silvestres. Essas ameaças foram identificadas no levantamento socioeconômico da região, que identificou também a necessidade urgente de fornecer assistência técnica aos produtores rurais para que adotem práticas mais sustentáveis.

Projeto Serra da Jiboia

O Projeto Serra da Jiboia, financiado pelo fundo TFCA, através do Funbio, realizou estudos bióticos, abióticos e socioeconômicos na Serra da Jiboia e em seu entorno para subsidiar as discussões sobre a possível criação de uma ou mais unidades de conservação.

O projeto iniciou em junho de 2014 e foi executado pelo Gambá em parceria com a  Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Seu principal resultado é a consolidação de uma proposta de mosaico de Unidades de Conservação na Serra da Jiboia e a mobilização dos atores sociais do Recôncavo Sul para fortalecer o apoio às UCs.

Logomarca Gambá

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Reserva Jequitibá – Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Serra da Jibóia, Elísio Medrado/BA