01/02/2012
A partir desta quinta-feira (2), a Bahia vai aderir à campanha nacional “Mangue Faz a Diferença”, cujo objetivo é mobilizar moradores e turistas sobre a importância dos manguezais e alertar sobre os riscos que as mudanças no Código Florestal trazem para o futuro desses ecossistemas. No estado, as ações ocorrerão em Salvador, na Ilha de Itaparica e em Canavieiras. A campanha tem coordenação nacional da Fundação SOS Mata Atlântica e local do Grupo de Defesa de Promoção Socioambiental (Gérmen) e da ONG Pró-Mar e também ocorrem na Reserva Extrativista de Canavieiras.
Serão três dias de atividades e mobilizações. No primeiro deles (2), o Gérmen promoverá um cortejo, simbolizando a morte do manguezal, durante a Festa de Iemanjá, em Salvador. O cortejo terá concentração às 14h, na Casa da Mãe (restaurante em frente à colônia de pesca), fará o contorno da igreja do Rio Vermelho e seguirá para a praia, onde acontecerá, seguindo a tradição, a entrega de presentes biodegradáveis para Iemanjá com o acompanhamento de uma mãe de santo. Especialmente produzida para a manifestação, a oferenda é feita com materiais que não poluem o ambiente marinho.
Entre os dias 3 e 4, as ações acontecerão na Ilha de Itaparica e serão coordenadas pela ONG Pró-Mar. Na sexta-feira (3), a ONG colocará um estande, a partir das 9h, em frente ao Terminal Marítimo de Lanchas de Mar Grande, na Ilha de Itaparica, com plantões e passando informações sobre a campanha. Durante a tarde será realizado o sepultamento do caranguejo, com concentração no próprio estande e seguindo até a Ilhota, fazendo a limpeza do manguezal.
No sábado (4), a Pró-Mar instalará um estande no Festit (evento local), em Itaparica, para promover a educação ambiental e passar informações sobre os manguezais e os impactos das alterações do Código Florestal. No domingo seguinte (12), a Pró-Mar participará do tradicional evento de presenteio à Iemanjá, com cartazes, faixas, fantasias e outros equipamentos da campanha, partindo também de Gamboa e seguindo até o Terminal Marítimo.
Além disso, a partir do dia 17, ocorrerão ações também na cidade de Canavieiras, com caminhadas, mutirões de limpeza e a realização do “VII Festival Gastronômico Cultural de Moquecas das Comunidades da RESEX de Canavieiras”, no dia 19, cujo tema será a campanha Mangue Faz a Diferença.
Além da Bahia, a campanha ocorrerá em diversas regiões do país, com manifestações programadas em doze estados (CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA, ES, RJ, SP, PR e RS), além de ações em Brasília/DF (confira a programação completa ao fim do texto).
Como parte da campanha, também está sendo lançado o Manifesto A Favor da Conservação dos Manguezais Brasileiros. Segundo o texto do documento, além dos sérios problemas que já vêm sendo denunciados por cientistas, ambientalistas, especialistas em legislação e organizações da sociedade civil – a exemplo da anistia e da redução da proteção em áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente –, representando um grave retrocesso na proteção das florestas, o projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados e o substitutivo do Senado, atingem também diretamente os ecossistemas costeiros e estuarinos, notadamente os manguezais brasileiros, em toda zona costeira do país. Em seguida, o documento lista os principais problemas trazidos para esses ecossistemas e pede providências às autoridades. O manifesto pode ser acessado na íntegra em http://bit.ly/manguefaz.
A ação tem o apoio do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, uma coalizão formada por 163 organizações da sociedade civil brasileira, responsável pelo movimento “Floresta Faz a Diferença”.
Informações, fotos e vídeos sobre todas as atividades, bem como os materiais e o manifesto estarão disponíveis no hotsite www.manguefazadiferenca.org.br, a partir de fevereiro. Internautas também poderão acompanhar a mobilização pela fan page da campanha no Facebook, facebook.com/manguefazadiferenca, e manifestar seu apoio via Twitter com a hashtag #manguefazadiferenca.
Manguezais X novo Código Florestal
Fabio Motta, coordenador do Programa Costa Atlântica, da SOS Mata Atlântica, explica que os manguezais servem como berçários para muitas espécies de peixes e crustáceos com importância ecológica, econômica e social. “Hoje, existem mais de 500 mil pescadores no Brasil. Se somados aos empregos indiretos, o número de pescadores ultrapassa 1 milhão, portanto, os mangues são uma fonte de renda para um número significativo de brasileiros. A defesa desses manguezais deve mobilizar toda a sociedade, não apenas os pescadores, pois além da sua importância econômica, eles são áreas fundamentais para a manutenção da vida marinha”.
O texto do Código Florestal, aprovado no Senado, coloca em risco esses importantes ambientes, ao propor a consolidação de ocupações irregulares em manguezais ocorridas até 2008, consolidar ocupações urbanas nessas áreas e permitir novas ocupações, sendo 35% em manguezais do bioma Mata Atlântica e 10% na Amazônia. “Como argumento, o projeto de lei defende a carcinicultura (criação de camarões), atividade que já é responsável por enormes passivos socioambientais no Nordeste do país”, explica Motta.
Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, destaca que os manguezais são áreas de uso comum da população e essenciais para a qualidade de vida das gerações atuais e futuras. “O projeto de lei que altera o Código Florestal não tem coerência com o processo histórico do país, marcado por avanços na busca pelo desenvolvimento sustentável. Se aprovado, beneficiará um único setor econômico em detrimento do nosso capital natural e de nossas populações. A sociedade, representada em manifestações de empresários, representantes da agricultura familiar, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da juventude, dos sindicatos, de juristas e de tantos outros segmentos, já se posicionou contra o projeto de lei aprovado pelo Congresso e não pode ser desconsiderada”. Em dezembro do ano passado, a presidente Dilma recebeu 1 milhão e meio de assinaturas de brasileiros contrários à aprovação do novo texto do Código Florestal.
O projeto de alterações no Código Florestal tem nova votação prevista para o início de março.
Programação
Coordenação geral: Fundação SOS Mata Atlântica.