Gambá acompanhou e contribiu na Rio+20 e Cúpula dos Povos

04/07/2012

Um espaço de diversidade de movimentos, visões e experiências. É como o Gambá avalia a Cúpula dos Povos, na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, da qual a instituição participou ativamente desde a sua organização e durante todos os dias de sua realização, de 15 a 23 de junho, no Rio de Janeiro. Através de um dos seus Coordenadores, Renato Cunha, a entidade integrou o Grupo Articulador (GA) do Comitê Facilitador da Sociedade Civil da Cúpula, representando a Rede de ONGs da Mata Atlântica – RMA, além de participar de atividades de discussão de temas estratégicos e convergentes com sua atuação. Para o Gambá, a Cúpula dos Povos representou um avanço por ser um local de discussão da sociedade civil organizada de todo o planeta, extrapolando a seara do movimento ambientalista. Estiveram integradas redes, organizações e movimentos sociais brasileiros e de outros países, debatendo e buscando alternativas.

E, se não foi possível abrir caminhos para a concretização das soluções que precisamos, os participantes saíram, mais do que nunca, cientes da importância do papel da sociedade civil para pressionar, cada vez mais, a continuidade dessas discussões e, as quais não serão espontaneamente propostas pelas autoridades constituídas, embora elas precisem estar envolvidas.

Claro que o espaço da Cúpula dos Povos também foi de desafios. Especialmente no que tange à combinação logística, alojamento e alimentação. Cerca de dez mil pessoas ficaram abrigadas no Sambódromo e, naturalmente, problemas e diferenças surgiram, mas minimizados por um belo trabalho de moderação feito pelos representantes da RMA-Rede de ONGs da Mata Atlântica, Ivy Wiens (SP) e da Rebea/Reaba,(Redes de EA Brasileira e da BA) Breno Pessoa (BA), em apoio a Secretaria Operativa do GA.

Mesmo considerando que os avanços não foram significativos, o fim da festa não foi marcado pelo desânimo ou desistência, nem mesmo por ilusão ou ingenuidade. A hora é de arregaçar as mangas e continuar a mobilização internacional, dado a urgência e a magnitude das questões socioambientais a serem enfrentadas por todos os setores da sociedade. É fundamental o desenvolvimento de lutas e campanhas socioambientais em defesa dos bens comuns, dos direitos, da justiça social e ambiental.

Oficina de ativismo

Tentando desapegar das velhas formas de exercer a cidadania através de ultrapassadas palavras de ordem, foi realizada a oficina de ativismo, na Cúpula dos Povos, na Tenda 11, buscando construir uma nova história de mobilização social, mais condizente com os tempos de internet, redes sociais e urgências socioambientais planetárias. A Conselheira Diretora do Gambá, Mariana Santana, participou dessa oficina que atraiu pessoas de vários estados e movimentos, e teve como foco conversar sobre as diversas formas que podemos criar nossas intervenções ativistas com foco, planejamento, oportunidades midiáticas, “fotos oportunidades” para disparar nos jornais e mídias eletrônicas além do papo sobre o processo de formação da Escola de Ativismo que está atuando com cursos em vários estados brasileiros, http://www.eativismo.org/

Conferência Oficial da ONU

Por outro lado, a Conferência Oficial da ONU foi um espaço de franco retrocesso e de falta de vontade política, econômica e cultural de empreender as mudanças necessárias para apontar um novo rumo para o desenvolvimento e o meio ambiente. Estima-se que tenha havido o investimento de R$500 milhões, para concretizar quase nada em termos de compromissos com o meio ambiente e com a sustentabilidade do planeta. O documento acordado deixou de fora a definição de metas, a garantia de direitos e a estruturação do fundo que deveria servir para a minimização dos grandes impactos ambientais que já estão em curso.

RMA celebrou seus 20 anos na Rio +20

20 anos da Rede de ONGs da Mata Atlântica

O Gambá também trocou experiências no evento comemorativo dos 20 anos da Rede Mata Atlântica – RMA, revelando desafios, conflitos e oportunidades no contexto do bioma. O Coordenador Renato Cunha e a Bióloga Ananda Orlando compartilharam o trabalho que vem sendo desenvolvido no Nordeste de fomento aos Planos Municipais de Mata Atlântica, além de trazer as discussões, juntamente com Hundira, da CPT, sobre os impactos socioambientais do Porto Sul, empreendimento do Governo da Bahia, que vem sendo proposto, e fará enorme pressão sobre esse bioma, no sul do Estado.

A RMA contou com um estante, onde pode mostrar alguns materiais próprios e de filiadas. Ananda contribuiu no cuidado do estante.

Outro evento que a RMA organizou, juntamente com o Ministério do Meio Ambiente, a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e a cooperação alemã (Giz), foi um debate sobre a Mata Atlântica para discussão das políticas públicas em andamento no bioma, na cinemateca do MAM – Museu de Arte Moderna (Aterro do Flamengo). O Gambá, através de Ananda, se fez presente.

Equipe do Gambá perguntou a Dilma qual seria a sua cara na Rio+20

Código Florestal

Realizada na Plenária 5 da Cúpula, uma atividade que tratou do Código Florestal, foi desencadeada pelo Comitê Brasileiro em Defesa das Florestas, da qual fazem parte diversas redes e organizações da sociedade civil. Foi uma das que mais mobilizou o Aterro do Flamengo. Também teve a colaboração do Gambá e foi palco para a manifestação da indignação com os desmandos da política ambiental brasileira, principalmente em relação à aprovação das alterações do Código Florestal e veto parcial da Dilma. Além das presenças dos globais Marcos Palmeira e Vitor Fasano e representantes do Greenpeace, WWF, ISA, SOS Mata Atlântica, IPAM, IDS, entre outras entidades, foi instigante a fala de Marina Silva. Suave, firme, contundente, ela foi muito objetiva ao afirmar: “Não temos que ser da situação nem da oposição, precisamos é ter posição clara das coisas”. Isso significa não abrir brechas para negociar o inegociável, que diz respeito aos direitos de qualidade de vida de todos os seres de hoje e das novas gerações. Finalizou com “Brasil urgente, a mata é da gente”. As críticas à presidente Dilma foram fortes, por ela não ter tido uma posição proativa em defesa das florestas no processo de discussão e nem a coragem de vetar todo o projeto aprovado no Congresso.

Três gerações se encontraram no palco dos Diálogos Intergeracionais

Diálogos Intergeracionais

Um momento especialmente marcante para o Gambá e dois de seus fundadores, Lilite Cintra e Renato Cunha, foi o Encontro Diálogos Intergeracionais sobre a Sustentabilidade, no dia 19 de junho,também realizado na Plenária 5, da Cúpula dos Povos (Aterro do Flamengo), no qual Lilite subiu ao palco com sua filha, Camila Cunha, e a neta, pequena Elis. As três representaram a convivência de diferentes gerações, uma complementando a outra, cuja prática do diálogo entre si pode construir a sustentabilidade desejada. Trouxeram uma vela, que foi usada em uma caminhada por todas as tendas na ECO-92, para transferir a chama, acesa há 20 anos, para a vela de 2012. Um ato simbólico que emocionou a plateia. Esse evento foi um dos pontos altos da Cúpula dos Povos, reunindo nomes como Marina Silva, Ailton Krenak, Regina Chaves, Oded Grajew, Heloisa Helena, Lucas Campodonico, Maria Alice Setúbal, Ivan Pascaud, Edith Sizoo, Jamie Henn, Fernanda Kaingang, Xiuhtezcatl Martinez e Vandana Shiva. Foram depoimentos das trajetórias de vida dessas pessoas, de diferentes idades, mas que expuseram o mesmo objetivo de construir um mundo melhor, com justiça social e ambiental. Marina Silva fechou as falas provando a cada um e cada uma, presentes naquela tenda, que é preciso ter os pés no chão, assumir posições, agir com compromisso, mas que não se pode parar de sonhar. Momento empolgante que reavivou a esperança nos corações dos que ali estiveram.

Educação Ambiental

A Educação Ambiental (EA) também esteve na agenda do Gambá, foi acompanhada pelas Conselheiras Diretoras Lilite Cintra e Mariana Santana, com destaque para a II Jornada Internacional de Educação Ambiental, na qual o “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, elaborado na ECO-92, foi reafirmado, a partir de várias discussões e encontros ao longo do período preparatório da Rio+20/Cúpula, que culminaram na Tenda da Rebea/Rebal (Redes Brasileiras de EA e da Agenda 21), na Cúpula dos Povos. Foi criada uma rede planetária de educadores e educadoras ambientais, com o objetivo de manter a divulgação e implementação do Tratado de EA, além de promover, cada vez mais, a troca ao redor do mundo, de experiências educativas, que visem a sustentabilidade.

O Gambá também esteve presente no evento para a divulgação, fortalecimento e criação de uma rede internacional da “Carta da Terra”. Esse documento, junto com o Tratado de EA e a Carta das Responsabilidades Humanas compõe uma base conceitual e de princípios para qualquer trabalho pela sustentabilidade socioambiental. Tem como seu principal expoente Leonardo Boff, que palestrou, abordando a enorme necessidade de retomarmos o cuidado uns com os outros e com todos os seres.

O Gambá também acompanhou o IV Encontro de Juventude organizado pelo MEC/MMA (Ministérios de Educação e do Meio Ambiente), visando a realização da IV Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, no qual alguns jovens baianos, do Coletivo Jovem de Salvador/Grupo Pegada Jovem, participaram. Presente na abertura do encontro o Gambá teve uma postura crítica, questionando a forma superficial de abordagem das questões socioambientais e a maneira leviana dos atuais organizadores desse encontro, ao desconsiderar o histórico da formação de grupos de jovens , de todos os Estados da Federação, voltados para a temática ambiental, desenvolvido em gestões anteriores, desde 2007, com o início da implementação da Lei Nacional de Educação Ambiental nº 9795.

Rio+você

É uma rede de jovens que foi criada na Argentina e estendeu-se para a América Latina, que conseguiu realizar um Congresso de Juventude preparatório da Rio+20, em Córdoba e mobilizar jovens de aproximadamente 200 cidades de diferentes países, incluindo outros continentes, para participar da Rio+20/Cúpula e fazer uma cobertura jornalística do evento. Mariana Santana trabalhou na mobilização de jovens do Brasil para se articularem através da Rio+você, deu suporte logístico para hospedagem da delegação toda e ficou responsável pela formação do grupo para participar do evento. Esse grupo de jovens da Rio+você circulou em diferentes espaços, da conferência oficial, e da Cúpula dos Povos. No Rio Centro, local da Conferência oficial, ficou marcada a passagem do grupo pela manifestação que fez, ressaltando a falta de espaço para a voz dos jovens, quando vários integrantes perfilaram-se com a boca tapada de adesivo, enquanto era lido um manifesto solicitando mais atenção aos anseios da Juventude, ao tempo que cartazes foram apresentados com os dizeres: “Save our say”-“Salve nossa voz”.

Não faltou o questionamento sobre o uso da energia nuclear

Nuclear

O combate à exploração de energia nuclear também esteve em pauta, na Tenda Anti-Nuclear, da qual Renato foi um dos organizadores, como membro da Articulação Antinuclear Brasileira e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, que se tornou um ponto de encontro para as discussões sobre o tema. O depoimento de vários japoneses, vítimas ou estudiosos do acidente de Fukushima emocionou os presentes. A crítica à retomada do Programa Nuclear Brasileiro, à construção de Angra 3, às novas usinas nucleares no Nordeste, à exploração de urânio de Caetité, foram bastante discutidas.

Além disso, foram feitas várias abordagens sobre a Matriz Energética Brasileira e de outros países, como o Equador e Canadá, com críticas aos combustíveis fósseis, aos grandes projetos hidrelétricos na Amazônia, como Belo Monte. Mas também ressaltou-se a importância de viabilizar as energias renováveis, como a solar e a eólica, com base no imenso potencial de cada uma e com respeito aos territórios e as comunidades. A busca de um modelo energético sem o nuclear foi marcante nos debates.

Campo Socioambiental

O campo socioambiental, como foi chamada a articulação das redes, fóruns, organizações socioambientais brasileiras, como o FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, a RMA – Rede de ONGs da Mata Atlântica, a Rede Cerrado, o GTA – Grupo de Trabalho Amazônico, a Rede Meros, o Instituto Vitae Civilis, o IDS – Instituto Democracia e Sustentabilidade, o Gambá, entre outras, organizou várias atividades em duas tendas vizinhas, que também foi um ponto de encontro dos movimentos, nas quais Renato e Ananda estiveram presentes em vários momentos. Debates sobre a política ambiental brasileira, governança do desenvolvimento sustentável, marco regulatório para a sociedade civil, sustentabilidade e convivência digna nos biomas e territórios, a proteção dos oceanos, foram abordados. O evento do Casa – Centro de Apoio Socioambiental também aconteceu em uma dessas tendas, quando foi anunciado a mudança do nome da instituição, que agora passa a ser denominada Fundo Socioambiental Casa. Renato moderou a atividade que contou com a participação de vários apoiados.

As marchas foram espaço da visibilidade dos questionamentos com a política ambiental.

Marchas

Espaços de dar voz aos incômodos, mas também ao desejo de real transformação, as marchas foram ponto de destaque na Rio +20. A “Marcha Ré” fez um panorama dos principais retrocessos da política ambiental brasileira. Já a “Marcha da Ação Global” reuniu 80 mil pessoas na Avenida Rio Branco, apontando as mais diferentes questões e desafios para um mundo sustentável. Sem dúvida foi a marcha para o futuro que precisamos!

Logomarca Gambá

Av. Juracy Magalhães Jr, 768, Edf. RV Center, sala 102, Rio Vermelho, Salvador/Ba. Tel/fax: 71- 3346-5965

Reserva Jequitibá – Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Serra da Jibóia, Elísio Medrado/BA