Povos tradicionais ocupam a sede do INCRA

10/06/2011

“Beira-mar êêê beira-mar
Beira-mar êêê beira-mar
Riacho só corre pro rio
O rio só corre pro mar
O mar é morada de peixe
Quero ver você sambar”…

É assim ao som do tradicional samba de roda que cantam e dançam os e as quilombolas e os pescadores e as pescadoras que ocupam a sede do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no CAB (Centro Administrativo da Bahia). Em meio a gritos de guerra e múltiplos toques, os cânticos são entoados durante os intervalos das plenárias de deliberação do movimento.

Chegados desde a última segunda-feira (06/06/11), as cerca de 600 pessoas, representantes de associações da sociedade civil ligados às e das comunidades tradicionais, exigem regularização das terras quilombolas, uma política mais efetiva para as Reservas Extrativistas (Resex), crédito rural, garantia de moradia, dentre outras reivindicações.

A iniciativa é do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil que formou comissões de segurança, alimentação, comunicação, planejamento, mobilização, dentre outras, para organizar a ocupação do espaço. “Temos pessoas dispostas, alimentação e organização, pois estamos preparados para só sair daqui quando nossas reivindicações forem asseguras pelo governo”, disse o pescador José Roberto, 34, do município de Maragojipe e da Coordenação do Recôncavo Baiano do Movimento.

Convocados a sambar e a dar respostas e encaminhamentos para as problemáticas apontadas pelo movimento, os governos federal e estadual representados por diversos órgão se dispuseram a conversar por meio de reuniões, no entanto ainda sem dar respostas concretas as solicitações. “Estava agora em reunião com a representante do Ministério da Pesca, no entanto as questões que ela diz querer solucionar estão desatualizadas. São reivindicações de 4 anos atrás. Nos retiramos da reunião e solicitamos que ela nos dê respostas sobre as demandas atuais”, sentenciou Carlos Alberto mais conhecido como Carlinhos do município de Canavieiras, um dos coordenadores gerais do Movimento e membro da Amex – Associação Mãe dos Extrativistas da Reserva de Canavieiras.

Luta

“Já perdemos 4 companheiros nessa luta. Não dá mais para vocês aí do governo não se organizarem para fazer o que solicitamos por direito. Enquanto estamos aqui, alguns fazendeiros estão ameaçando e agredindo nossos compadres”, desabafou o quilombola Deneval dos Santos, do Quilombo de São Francisco de Boqueirão durante a audiência pública no INCRA que reuniu governantes e dezenas de representantes dos movimentos.

Continuam a espera pelas respostas efetivas dos governos, assim como a organização do movimento. Com mais e menos samba e sangue o embate é travado há séculos. Agora é esperar a sensibilidade dos governos para perceber as demandas e encaminhar da melhor forma a política para esse segmento.  “Quero ver o governo sambar.” Afinal a sabedoria tradicional já demonstrou através dos seus canos e toques perceber as interligações entre os aspectos, sociais, ambientais e culturais, conexões que os fortaleceram e que os fazem cobrar o que é de direito.

Logomarca Gambá

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Reserva Jequitibá – Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Serra da Jibóia, Elísio Medrado/BA