08/11/2018
Depois de 10 anos de esforços das lideranças locais, essa terça (06) os alunos da escola estadual Marileine da Silva, em Mata Escura, finalmente deram adeus ao contêiner de lixo que sujava a lateral do colégio. A feliz despedida foi o ponto alto da atividade promovida pelo projeto Escola Verde com Afeto, executada pelo Canteiros Coletivos em parceria com a escola e grupos locais. Agora, ao invés do lixo e entulho acumulados, ao chegar para as aulas, os estudantes e professores vão se deparar com canteiros de plantas e um painel artístico produzidos coletivamente. A entrada da escola até vai ser remanejada para o local onde houve a intervenção, para estimular a ocupação e cuidado permanente com o espaço.
O projeto Escola Verde com Afeto está transformando os arredores de 6 escolas em Salvador. A proposta é unir esforços dos moradores, direção das escolas, alunos, equipe do projeto e prefeitura. Cada um faz sua parte e contribui com ideias para revitalizar os espaços degradados pelo acúmulo de lixo e entulhos. São dois passos iniciais para alavancar a recuperação dos espaços: primeiro uma reunião de planejamento, onde são definidas as ações necessárias. Depois a ação propriamente dita, onde estudantes e moradores colocam a mão na massa para deixar tudo do jeito que pensaram. Depois disso, é necessária a articulação na escola de uma rede que vá cuidar da manutenção do espaço. Já foram realizadas ações nos bairros Pau da Lima, Lobato e Vasco da Gama. As próximas serão em escolas em Arenoso e Costa Azul.
Em Mata Escura, o problema estava no ponto disponibilizado pela Limpurb para fazer a coleta de lixo dos arredores. Instalado na lateral da escola, o contêiner causava mau cheiro, atraía ratos e insetos transmissores de doenças e enfeiava o local. A diretora Laura Rodrigues de Souza Silva conta que viu na chamada para o projeto do Canteiros Coletivos uma oportunidade para mudar isso: “Há anos lutamos para tirar esse ponto de lixo daqui. Já fizemos projetos e denunciamos ao Ministério Público. Quando vi a proposta do projeto pensei ‘é agora que vamos resolver isso!’. Juntei os líderes de sala, professores e o colegiado e nos inscrevemos”, conta a diretora.
A atividade começou às 7:30h com um mutirão de coleta de recicláveis pelo bairro. Os resíduos foram acumulados pelos alunos e recolhidos pelo coletor de recicláveis Paulo. A diretora Laura já articulou com ele e mais dois coletores que venham recolher material diariamente na escola, com planos de estimular a reciclagem entre os alunos. A Limpurb compareceu, retirou o lixo com o caminhão compactador e levou permanentemente o contêiner. Agora, como resultado de articulação feita anteriormente e acatando recomendação do Ministério Público Estadual, a coleta será feita de porta em porta e a lateral da escola já não é mais um depósito de lixo.
Depois da despedida do indesejado contêiner, o mutirão de alunos, funcionários da escola e da Limpurb, moradores e equipe do projeto seguiu trabalhando para tornar o espaço agradável. Realizaram uma lavagem para tirar os resquícios de lixo, instalaram jardineiras com hortaliças e plantas ornamentais e deram vida ao muro da escola com uma instalação de arte urbana. O estudante Gabriel, da 6ª série, participou ativamente de todos os momentos e já pensa na manutenção do espaço, “Melhorou 100%! Deixou a rua mais alegre. Era bom a gente da escola fazer umas placas orientando a não jogar lixo aqui”, planeja.
Vários grupos culturais participaram da ação e se apresentaram: a Fanfarra Interativa da Bahia, Sarau Crias da Mata, Grupo Engenho da Dança, grupo de dança Cia da Mata, Adolescer com Arte e o Disparo Rap. Crislane Bahia, do coletivo Agentes da Negritude, participou da ação e avalia: “É de grande valor. No momento político que estamos, com as escolas sem verba, é importante a diretoria daqui abraçar ações como essa e também os grupos culturais, tornando a escola uma segunda casa para os alunos”. Ângela Bacelar, liderança comunitária do Fórum de Desenvolvimento da Mata Escura também considera a valorização do espaço muito importante para o bairro “Qual jovem se sentiria feliz convivendo com esse lixo aqui? Um ambiente bem cuidado melhora muito a auto estima dos meninos e pode diminuir até a violência em nosso bairro”, diz ela, comemorando também a reforma da pracinha do fim de linha de Boca da Mata.
Com a recuperação do entorno da escola, a comunidade fica com a tarefa de se articular para conservar o espaço e ainda acabar com outro ponto de acúmulo localizado em frente ao Terreiro Bate-Folha. A desativação do ponto de entulho já tinha sido demandada pelo Ministério Público, mas ainda não foi cumprida pela Limpurb e degrada os arredores desse importante terreiro de Salvador, tombado pelo IPHAN como patrimônio cultural do Brasil.
O Projeto Escola Verde com Afeto é realizado pelo Canteiros Coletivos, com apoio do Instituto Limpa Brasil e financiamento do Fundo Socioambiental Casa para executar as ações em 6 escolas selecionadas mediante inscrição prévia do projeto. O Programa Casa Cidades tem o apoio do Fundo Socioambiental Casa e da OAK Foundation e está financiando 10 projetos que buscam contribuir para uma Salvador mais sustentável. O Gambá é o articulador local dos projetos.