Rede Solidária com participação da UNEB possibilita difusão de sementes Crioulas em comunidades da Chapada Diamantina e marca presença no projeto Resiliências Climáticas

03/04/2023

Durante Formação em Análise de Dados Socioambientais, Projeto Resiliências Climáticas – parceria entre COSPE e GAMBÁ, participa de troca de sementes crioulas, incluindo sementes de milho e arroz de sequeiro.

“Construção de Rede Solidária na Preservação das Sementes Crioulas na Agricultura Familiar do Território de Identidade de Irecê -TII”, iniciativa da Universidade Estadual da Bahia – UNEB, fez-se presente no projeto Resiliências Climáticas e alcançou comunidades tradicionais em Morro do Chapéu. Em entrevista, a Professora Maria Dorath Sodré relata a importância da construção de redes para trocas de sementes crioulas para “qualidade do alimento a ser produzido, do reconhecimento dos saberes dos agricultores, das condições biogenéticas da fauna e flora adaptada ao ambiente específico, a biodiversidade e, especialmente, por permitir ações que possam assegurar soberania e segurança alimentar”. As sementes crioulas são, normalmente, fornecidas por agricultores familiares e, em seguida, é aplicado teste de transgenia pela UNEB campus Irecê.

Durante a Formação em Análise e Gestão de Dados Socioambientais do Projeto Resiliências Climáticas, as comunidades participantes do projeto, entre elas Ouricuri II, Passagem Velha, Veredinha, receberam sementes crioulas da Rede Solidária. Como resposta, alguns dos participantes forneceram novas sementes,perpetuando a troca para novos testes. A professora ressalta que uma das características comuns da origem destas sementes é a ancestralidade, pois, normalmente, os agricultores identificam seus pais e avós como responsáveis pelos primeiros cultivos.

A troca de sementes crioulas é identificada pelo Resiliências Climáticas como uma boa prática, respeitando o saber ancestral e a soberania alimentar. Para o projeto, “boas práticas trazem a soma de aprendizados das memórias que formam o agora. Ou seja, elas conectam o que estou vivendo agora com o que mudou”, comenta Rafael Freire, coordenador do projeto. É ainda produto do projeto Resiliências Climáticas, o fortalecimento da capacidade de implementação de boas práticas de adaptação às mudanças climáticas contextualizadas aos desafios socioambientais dos biomas Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e área costeira, por parte dos grupos vulneráveis.

Neste momento, as pessoas das comunidades estão colhendo o resultado das sementes plantadas em outubro de 2022. Amostras das novas sementes serão novamente testadas para continuidade do projeto.

Plantação de milho na Comunidade de Ouricuri II ( Morro do Chapéu), realizada com as sementes trocadas durante o projeto Resiliências Climáticas.

Resiliências Climáticas é um projeto realizado em parceria por Cospe e Gambá, co-financiado pela União Européia, com o objetivo de valorizar as boas práticas de adaptação à mudança do clima em áreas costeiras e nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga baianos. Atualmente, o projeto está no seu segundo ano e finalizou recentemente a primeira fase de formação. Para realização das atividades e operacionalização do projeto, as universidades UNEB – Universidade do Estado da Bahia, UNIVASF – Universidade Federal do Vale do São Francisco, UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, e UFOB – Universidade Federal do Oeste da Bahia são parceiros locais, atuantes em cada território. Nos próximos passos do projeto, estão previstos desenvolvimento de Planos Locais de Adaptação às Mudanças Climáticas; formação para desenvolvimento e submissão de projetos; publicação com mapeamento de boas práticas, entre outros.

Confira agora a entrevista completa:

COMO COMEÇOU A TROCA DE SEMENTES?

Prof Maria Dorath Sodré: Essas trocas de sementes começaram em 2021, quando da pandemia não tínhamos atividades presenciais e eu estava trabalhando no projeto  Mapeamento de Sementes Crioulas no Território de Identidade de Irecê, através de entrevistas aos agricultores, Ongs e instituições públicas que fazem parte do Comitê de Agroecologia do Território de Identidade de Irecê – TII.

Nas entrevistas, ficamos sabendo da existência destas sementes e mais 20 casas de Semente, construídas no TII, durante o projeto Cisterna.

Foi a partir de uma necessidade de preservar estas sementes que as trocas iniciaram. Articulamos com os agricultores e agricultoras do Grupo Raízes do Sertão, que têm certificação de conformidade orgânica e realizam as feiras de produtos orgânicos.

Construímos um outro projeto para atender estas novas propostas denominado de “Construção de Rede Solidária na Preservação das Sementes Crioulas na Agricultura Familiar do TII”. Este projeto foi aprovado no Edital da UNEB com a Pró-Reitoria de Extensão que possibilitou comprar os testes de identificação de transgenia e promover as oficinas de troca de sementes.

A necessidade dos testes de identificação de trangenia era uma preocupação colocada pelos agricultores e representantes das instituições e organizações do TII com a qualidade e condições de suas sementes. O Grupo Raízes do Sertão já realizava esta testagem e a Copirecê com vista a garantir milho não transgênico. 

Foram promovidas oficinas de trocas entre estes agricultores e agricultoras durante as Feiras de Orgânicos em Irecê, por reunir um maior número de agricultores e de vários municípios do Território, permitindo alcançar por capilaridade agricultores de vários municípios.

Após reuniões e mobilizações com este grupo, conseguimos receber sementes de milho para fazer os testes de identificação de transgenia e a doação de milho testado sem transgenia para que outras famílias pudessem reproduzir e conservar estas sementes. 

Nosso objetivo é identificar áreas que possam ser livres de transgenia, guardiãs destas sementes. Para isto, entregamos sementes testadas e, pós colheita, testamos para acompanhar a condição. Vamos testar o milho da colheita de 2023 produzida em Ouricuri  na expectativa que se mantenha Crioula podendo  ampliar o número e áreas guardiãs dessas sementes.

Amostra de sementes para testes

PORQUE AS SEMENTES CRIOULAS SÃO IMPORTANTES?

Nas sementes Crioulas se encontram parte fundamental da qualidade do alimento a ser produzido, além do reconhecimento dos saberes dos agricultores, das condições biogenéticas da fauna e da flora adaptada ao ambiente específico, bem como a própria biodiversidade. Em especial, as sementes crioulas são importantes por permitir ações que possam assegurar soberania e segurança alimentar.

São sementes adaptadas e desenvolvidas no processo das condições e contextos próprios destas comunidades. Elas carregam uma história e resistência desenvolvidos ante processos de produção agrícola e das condições naturais dessas comunidades.

A primeira semente que recebemos foi a de arroz. Produzida em condições de sequeiro, como era realizado neste território de agricultura familiar antes do tri consórcio do feijão, milho e mamona, com o projeto da agricultura moderna, objetivados à comercialização. Este arroz branco, integral, foi conservado e mantido pela família Teodoro há 50 anos, em São Gabriel.

QUANTAS SEMENTES JÁ FORAM TROCADAS?

Não temos uma Casa de Sementes para conservação, as sementes que recebemos nós fazemos doação. Por esse motivo, escolhemos conservar na própria roça do agricultor, um tipo de conservação considerado in situ. Em nossos registros, já passaram mais de 100 tipos de sementes doadas, incluindo sementes de milho, feijão, gergelim, alface, tomate, soja e muitas outras.

COMO FUNCIONA O PROJETO DE TESTES DE TRANSGENIA?

São testes comprados de empresas que vendem no Brasil. Eles identificam organismos geneticamente modificados. Fazemos os testes para sementes de milho e soja. Nós temos identificado o perfil dos agricultores que nos procuram para fazer esses testes e são agricultores que já cultivam e guardam essas sementes há muito tempo, que plantam as sementes que eram do pai e do avô, e têm sido essa uma característica comum entre eles. Aqui, em Irecê, a gente tem também uma outra instituição chamada COOPIRECÊ, que é uma grande cooperativa de agricultores familiares e eles produzem diversos produtos a base de milho, sem transgenia. Os testes são feitos com agricultores que, em geral, querem vender a sua safra porque tem um preço, inclusive, diferenciado. 

QUEM QUISER PARTICIPAR DESTA TROCA, COMO FAZ?

Normalmente nós distribuímos em eventos que envolvem os agricultores familiares.

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Esta publicação foi produzida com o apoio financeiro da União Europeia. Seu conteúdo é de responsabilidade exclusiva do Gambá e da Cospe e não refletem necessariamente as opiniões da União Européia.

Fotos: acervo Resiliências Climáticas e UNEB

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