Pássaros nativos apreendidos são soltos na Serra da Jiboia

31/01/2015

Os animais estavam nos aviários do Gambá sob acompanhamento de pesquisadores da UFBA

De 20 à 26 de janeiro uma equipe de professores e pesquisadores no Nucleo de Etologia e Evolução (NuEvo) da UFBA esteve na sede do Gambá em Elísio Medrado para realizar a soltura de periquitos e canarinhos que estiveram abrigados lá e voltaram ao ambiente silvestre. Os pássaros vieram do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) de Salvador.

Desde junho de 2013 os pássaros estavam no Centro de Pesquisa e Manejo da Vida Silvestre (CPMVS), do Gambá, aguardando o resultado de exames clínicos que garantissem a segurança epidemiológica do procedimento de soltura. Nesse período, o Gambá disponibilizou a equipe do CPMVS para realizar a alimentação dos pássaros e os pesquisadores da UFBA realizaram visitas periódicas para estudos e o acompanhamento individual dos pássaros. Eles receberam também treinamento anti-predadores, com o fim de prepará-los para lidar com aves predadoras a partir do momento que voltassem à vida silvestre.

O pesquisador Hilton Japyassú explica como foi o processo de devolução à vida silvestre: “Fizemos uma soltura branda, em que abrimos o viveiro e deixamos eles saírem conforme a vontade deles. Colocamos comida tanto fora quanto dentro do viveiro. Houve um grupo resistente a sair, então passamos a colocar a comida fora do viveiro. Notamos que metade do grupo dos periquitos sobrevoou a serra e não foi possível localizá-los. A outra metade ficou por perto e conseguimos acompanhar, nossa ideia é voltar uma vez por mês para registrar algumas informações”.

As aves foram anilhadas para identificação e os dados que serão colhidos vão procurar dar conta da distância até onde os pássaros vão, sua taxa de mortalidade e se estão se reproduzindo, o que pode ajudar a aperfeiçoar novos processos de soltura.

Estudos realizados

O estudo dos pássaros em seu período de quarentena e soltura gerou 3 dissertações de mestrado de pesquisadores do Instituto de Biologia da UFBA. Carolina Prudente e Gabrielle Winandy realizaram os treinamentos anti-predatórios nos pássaros. Gabrielle também demonstrou em seu estudo que os canários possuem traços individuais que denotam personalidade.

Já a dissertação de Daniel Capelli tratou das vocalizações emitidas pelos Canários, como os chamados de vôo ou de alerta. Como os canários recolhidos pelo Cetas vêm de diferentes locais do estado, a princípio essas vocalizações eram diferentes entre si. Mas Hilton explica que com o tempo de convivência passaram a haver semelhanças nas vocalizações dos canários que conviviam nos aviários do CPMVS, “ou seja, foi criado uma espécie de dialeto. Isso quer dizer que conseguimos formar um bando”.

Animais apreendidos: falta estrutura

A transferência, abrigo e soltura dos pássaros foi parte de um projeto que envolveu Gambá, o Instituto de Biologia da UFBA, Ibama e o Zoológico de Salvador. Normalmente o CPMVS, sede do Gambá em Elísio Medrado, não recebe pássaros silvestres devolvidos ou apreendidos. Em casos considerados especiais, somente com as permissões legais. Há instalações adequadas, mas que aguardam a definição de nova normatização do Estado sobre o assunto. Além disso não há recursos para manutenção.

Criar animais silvestres nativos em casa é crime ambiental previsto no artigo 29 da lei de crimes ambientais. Para pessoas que desejem devolver animais silvestres ao seu habitat natural, a orientação de Hilton é entregá-los ao Centro de Triagem para Animais Silvestres mais próximo. Na Bahia existem CETAS em Salvador, Porto Seguro e Vitória da Conquista. Veja os endereços e telefones.

A estrutura é insuficiente, no entanto, para atender a demanda de animais apreendidos ou mesmo devolvidos. Para Hilton, é necessário criar novas estruturas para suprir a demanda, “deveria ter um destino intermediário que trouxesse os animais até os CETAS que são distantes, ou até mesmo outros CETAS para que sejam recolhidos animais de todas as áreas da Bahia”, defende ele.