03/02/2017
A Serra da Jiboia foi alvo de grande estudo que gerou uma proposta de criação de um mosaico de Unidades de Conservação, o objetivo é proteger esse maciço florestal com grande importância do ponto de vista da biodiversidade e também social. A necessidade de proteção ao local fica clara em situações como a queimada que atingiu a região da pioneira semana passada, dias 23 e 24. A falta de fiscalização, políticas públicas de educação ambiental e equipes do PrevFogo, que atuam no combate a incêndios em UCs, torna a Serra mais vulnerável aos incêndios criminosos e outras ameaças.
Imagens do incêndio que atingiu a Serra da Jiboia no Morro da Pioneira em janeiro
A proposta de criação do mosaico foi concluída no início de 2016 e apresentada à Secretaria de Meio Ambiente em 18 de abril. Na ocasião, em reunião com o ex-secretário Eugênio Spengler, ficou decidida a criação imediata de um grupo de trabalho para encaminhar a consolidação da proposta. No entanto, o GT que devia começar imediatamente só foi oficializado seis meses depois, no dia 14 de outubro. Até agora foram realizadas duas reuniões e não há um parecer da Sema e Inema. Os moradores e admiradores da Serra seguem assistindo a degradação ambiental com queimadas, desmatamento, tráfico de animais e diminuição da disponibilidade de água.
Os estudos para caracterização da Serra da Jiboia e sugestão de enquadramento no SNUC foram realizados em 2014 e 2015 pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e Gambá através do projeto Serra da Jiboia. Após a conclusão dos estudos técnicos e discussões com as comunidades chegou-se ao modelo proposto: um Parque na área mais densamente florestada e uma Área de Proteção Ambientalv (APA) em seu entorno, de forma a permitir que os moradores permaneçam e pleitear uma melhor gestão ambiental que torne-os legítimos guardiões da Serra.
Incêndios podem ser melhor combatidos com a criação de UCs
Incêndios têm sido registrados no estado todo devido à época de estiagem, no entanto a queimada recente no Morro da Pioneira, ao que tudo indica, foi criminosa. Ela foi iniciada a partir do incêndio de um carro que foi abandonado no local, polícia civil e ministério público estão cientes e devem investigar o caso.
O combate ao fogo foi feito pelo 16º Grupamento de Bombeiros Militares, que estiveram no local dia 23, com auxílio da defesa civil de Castro Alves, prefeituras de Castro Alves e Santa Teresinha e voluntários da região, principalmente de Pedra Branca que atuaram também no dia seguinte até a completa extinção dos focos de fogo e fumaça. Para o subtenente Vanildo Cordeiro, do 16º GPM, os recursos dos bombeiros foram suficientes para fazer o controle do fogo nessa ocasião, no entanto ainda faltam equipamentos para os voluntários.
A professora da UFRB, Alessandra Caiafa, lamenta o incêndio, que pode ter extinguido populações importantes na área do Morro da Pioneira. Ela ainda não esteve no local, mas através de fotos avalia que o estrago pode ter sido maior do que o incêndio que ocorreu na área em 2012 por ter atingido também vegetação florestal. Alessandra lembra quem em 2012 foram queimadas populações inteiras de Vellozias e Melocactus bahiensis, também conhecido como Coroa de Frade, espécie ameaçada de extinção. “Eu frequento a Pioneira e nunca mais vi um Mellocactus ali. A sorte é que há um fluxo de fauna que pode trazer as sementes da Serra da Penha, próxima dali”, explica Alessandra.
Para Alessandra, caso a região já fosse uma Unidade de Conservação devidamente instituída e equipada os transtornos poderiam ser evitados ou melhor combatidos. Em primeiro lugar, a existência de guarda parques poderia inibir as queimadas criminosas. Outros equipamentos também podem ser instalados caso haja necessidade, como torres de incêndio, estruturas altíssimas de onde é possível avistar fogo na mata. Também seria importante haver brigadas de combate a incêndio, como o PrevFogo, mais próximas da Serra, já que os bombeiros atualmente precisam vir de Santo Antônio de Jesus.
Alessandra pondera que em várias áreas florestais da Serra o fogo não é grande ameaça por conta da umidade natural da vegetação e do solo. No entanto, nas bordas de pasto e na região de transição para a caatinga, nos município de Castro Alves e Santa Teresinha, é necessária atenção e trabalho de prevenção: “É preciso capacitar as prefeituras para lidar com incêndios que possam ocorrer nas bordas de pasto”, sugere ela.
Além da questão dos incêndios, a Serra da Jiboia pede por proteção e seguimento ao trabalho que gerou a proposta das Unidades de Conservação. A escassez de água ameaça cada vez mais, os pastos avançam Serra acima e as comunidades sem assistência técnica adequada continuam a utilizar técnicas não sustentáveis de produção agrícola. Enquanto o estado não encaminhar a questão, a Serra segue ameaçada e o esforço de construção da proposta pode ser desperdiçado, lamenta Alessandra: “A gente perde o esforço da parte de educação ambiental que o Gambá já fez. A população está na espera das audiências públicas e isso não acontece. A informação correta, fresquinha perde-se, tem essa ruptura temporal que desmobiliza as pessoas”.